Por Luis Fioretti
Quando as pessoas são motivadas pela paixão, dificilmente podemos cometer erros, pois as decisões que tomamos têm uma relação profunda com os nossos melhores sentimentos. E é o caso de Fernando Ravera, um jovem enólogo argentino nascido na cidade de Buenos Aires cujo amor pelas bebidas espirituosas acabou se transformando no vinho, chegando a se mudar de sua cidade natal para Mendoza, a capital do vinho argentino.
Aos 24 anos deixou tudo e, sozinho, foi para Mendoza estudar enologia. Já se foram os três anos em que estudou Engenharia Química na conceituada Universidade de Buenos Aires, o que, no entanto, o ajudou a validar algumas disciplinas da profissão que escolheu para si.
Ele se define como inquieto, movido a estar sempre em movimento, o que o levou a entrar nas vinícolas de alto padrão de Mendoza e realizar projetos no exterior. Ele prefere não julgar um enólogo por seus anos de carreira, mas por suas safras. Assim, “a quantidade de safras que você tem, dá uma relação com a experiência”, afirma. No caso dele, 18 safras falam dele.
Onze anos depois dessa mudança de carreira, Fernando participou de safras na Argentina, Alemanha, Itália, África do Sul e Estados Unidos, aproveitando as diferenças “contra-hemisféricas” que oportunamente marcam as estações do ano para as safras ao norte e ao sul de o planeta.
Ele está em Navarro Correas há 6 anos, uma vinícola de Mendoza pertencente à gigante mundial de bebidas Diageo. Hoje é enólogo-chefe, herdeiro do trabalho anteriormente realizado por Gaspar Roby, que assumiu novos desafios na mesma adega. E como tal, visitou o nosso país na recente Wine Expo.
ELE NA ADEGA. Vale lembrar que Navarro Correas surgiu na Argentina em 1970, sendo um dos primeiros a oferecer vinhos varietais premium. Hoje, como marca, ocupa lugar de destaque no país, onde 85% da sua produção é destinada ao mercado interno.
Ravera chegou à empresa em 2008, contratada para fazer vinhos de alto padrão. Depois, ficam todos os vinhos tintos nas suas mãos, como ele próprio afirma: "Gostou do que fez lá em cima e pediram que levasse para todos os tintos."
Com o seu trabalho houve uma mudança de estilos nos últimos anos, evitando vinhos cansados, velhos e oxidados, orientando-o para a fruta e tornando-o mais fácil de beber e ao mesmo tempo elegante. Isso aponta para a ideia de que "o consumidor de hoje quer que você dê o vinho já pronto, não quer esperar 2 ou 3 anos". Assim, a adega pretende entregar um vinho o mais maduro possível.
Hoje se vê que a Navarro Correas acaba de lançar os vinhos vintage 2009, levando o trabalho que outros delegam ao cliente, ou seja, mantendo-o. É algo que segundo este enólogo está a forjar uma tendência no mercado atual. Em suma, seu trabalho busca vinhos redondos, com corpo, mas sem perder a fruta.
SUA ATITUDE. Isso se deve à dedicação de Fernando, resultado palpável graças à sua atitude obsessiva e meticulosa no trabalho. Dedique-se ao mesmo tempo tanto ao vinho mais alto quanto ao mais barato da vinícola.
Antes de fazer um corte, por exemplo, você traz os vinhos para casa para degustá-los em momentos diferentes. Feito o corte, ele experimenta no dia seguinte e leva novamente para casa, sempre seguindo a ideia de avaliar os resultados em momentos diferentes.
“No dia de fazer o corte, pode-se estar muito cansado, permitindo a prova aproveitar os diferentes momentos, tanto para o vinho como para o próprio enólogo”. Então, à noite, com as papilas gustativas já relaxadas, a percepção muda completamente. Isso, porque grande parte da degustação acontece no momento em que se está, ou seja, o humor varia a percepção.
“Eu levo meu tempo, para mim é um amor fazer isso, uma diversão. Eles me pagam por isso, quem pode ser melhor? ”, Garante Revera.
Por outro lado, gosta de beber o vinho sozinho, "não sou um casal". Salienta que admira quem cozinha e aprecia o vinho, afirmando que “grande parte de quem cozinha tem um paladar muito mais desenvolvido em termos de aromas”.
COMO SE SABE UM BOM VINHO? Para Fernando a uva é algo natural e nelas está mesmo a base de um vinho de qualidade. Ter capacidade de escolha e saber selecionar o local é fundamental. “Para mim, 70% do vinho é da uva e o resto, da mão do enólogo. Você pode ter uvas muito boas, mas se não fizesse o trabalho na vinícola para cuidar do produto, acabaria estragando ”.
Saber identificar a uva é um longo processo. O Fernando agradece a Deus que na adega podem escolher uvas de diferentes locais. Ele faz suas escolhas com dois agrônomos auxiliando-o. Em suma, é feito um acompanhamento entre a escolha da uva, o preparo e a avaliação.
E o mesmo acontece com o vinho, não existe um sistema que diga "este é o melhor"; para Fernando tudo é saboroso. “É muito difícil explicar em palavras, é tentar dizer 'isso existe ou não'. E entre os agrônomos e eu temos um gosto muito particular, como se todos soubéssemos o que procuramos, compartilhando essa busca ”. Eles são Mark Mayne e Armando Yasiofano.